Acordei
sonolenta, como se tivesse sido uma noite muito longa e perturbadora, olhei no relógio
e só eram duas da manha, não tinha dormido nem três horas.
O
peito doía um pouco, acho que de tanto chorar, mesmo no escuro eu podia sentir
o inchaço dos meus olhos. Levantei atrás de um pouco de água, precisava
reabastecer meu corpo, seriam dias longos e difíceis.
A
casa como sempre estava vazia, fazia pouco tempo, mas eu já tinha me
acostumado, minha poltrona azul clara e meu tapete colorido ao lado da estante
organizada de livros era o lugar preferido da casa, não quis colocar teve na
sala, achei que seria muito melhor se parecesse um lugar aconchegante, do outro
lado havia minha rede amarela e algumas almofadas no chão, uma mesa pequena com
cadernos e espaço para meu note, meu escritório de criação, e ao lado da
pequena mesa meu abajur de cor neutra, era a sala mais incrível que eu poderia
ter.
Escolhi minha geladeira vermelha, gastei uma graninha nela, mas por ser
uma cozinha americana seria lindo poder avistá-la cada vez que me deitasse na
rede. Minhas canecas exposta na prateleira em cima da pia e meus eletrodomésticos
pretos davam um charme especial na casa.
Tudo calmo, e no seu devido lugar. Às vezes
era bom de mais ser só, ter tudo pra si, do jeito que se quer.
Mas
você sempre me faria falta, apesar de nunca ter me dado sua presença.
Era
uma grande loucura, alguns dias eu passava bem e em outros era como se
houvessem arrancado um pedaço de mim, eu conseguia saber os dias que seriam
mais difíceis. Já me conhecia o suficiente para saber quando a falta da sua ausência
me faria mal.
Eu
não poderia contar aquilo pra ninguém, seria uma derrota, ninguém entenderia,
eu teria que aguentar um milhão de julgamentos e não amenizaria em nada a minha
dor.
Por
esse motivo eu havia escolhido a solidão, a vida te da às cartas e você joga o
jogo, simples assim, tentei entrar em relações furadas pra esquecer sua
presença inexistente e nunca consegui, o barco sempre afundava no meio do
percurso, eu nunca sabia onde seria a chegada, tentava aproveitar o melhor do
viagem, mas alguém sempre acabava ferido ainda a bordo.
Achei melhor parar de
viajar clandestinamente em barcos alheios onde eu não fazia morada. Comprei meu
próprio barco, sentei na mesa de baralho, esperei as cartas chegarem e fui
jogando sozinha, hoje estou aqui, em mais uma daquelas noites longas e vazias.
A
gente precisa escolher se quer ser solitário ou viver sempre uma mentira magoando
as pessoas, em certo momento da vida fica difícil demais aguentar a pressão e a
magoa de outros corações além do seu, então a melhor opção que se tem é seguir
sozinho.
As
palavras me fazem companhia, escrevo para ajudar pessoas a se
encontrarem, escrevo para os que se sentem só, escrevo para amenizar as dores e as ausências, escrevo para deixar a alma
falar.
Assim
vamos velejando, soltando palavras ao vento e deixando a alma gritar.
Escolhi
tomar um suco que tinha na geladeira, desceu refrescante e libertador, olhei
pro céu e haviam muitas estrelas, dei nome a algumas, nomes que eu amava e por
algum motivo não faziam mais parte dos meus dias, respirei fundo e voltei pra
cama, chorei por mais alguns minutos, ate por fim adormecer.
A vida segue, e alguns dias são
melhores que outros.
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