Dores

em 18 de outubro de 2017



E então ele sorriu pra ela e disse tchau, tchau a única palavra ate hoje que havia saído da boca dele com sinceridade.

Ele não tinha ideia de como aquilo doía nela, ninguém tinha, todos sempre levaram aquilo de forma superficial, ninguém sabia a dimensão do que ela sentia.

Ela se sentia mesmo uma louca, uma maluca perdida em mundo desabitado, não conseguia se quer contar aquilo pra ninguém, porque ninguém entenderia.

Já se passaram tantos anos, todas a vidas ao seu redor seguiram seus rumos, todos os corações se abriram e se encheram de esperança e apenas o dela continuava vazio.

Era como parar no tempo, viver do passado, se alimentar de emoções que já não existiam nem nas mais remotas lembranças.

Algumas pessoas olhavam pra ela e arriscavam dizer: o que é nosso sempre da um jeito de chegar ate nós. Mas ela tinha tanta certeza que aquilo era pra ser tão dela, e nunca foi.

O peito sangrava, e escorria pelos olhos em forma de lagrimas, quando ela menos esperava sempre vinha algo para doer mais, era como viver uma vida de mentira, uma vida que não era dela, era como criar um personagem pra substituir. 

A grande tristeza é que aquela historia inventada não a fazia nem um pouco feliz.  


Estrelas

em 7 de outubro de 2017



Acordei sonolenta, como se tivesse sido uma noite muito longa e perturbadora, olhei no relógio e só eram duas da manha, não tinha dormido nem três horas.

O peito doía um pouco, acho que de tanto chorar, mesmo no escuro eu podia sentir o inchaço dos meus olhos. Levantei atrás de um pouco de água, precisava reabastecer meu corpo, seriam dias longos e difíceis.

A casa como sempre estava vazia, fazia pouco tempo, mas eu já tinha me acostumado, minha poltrona azul clara e meu tapete colorido ao lado da estante organizada de livros era o lugar preferido da casa, não quis colocar teve na sala, achei que seria muito melhor se parecesse um lugar aconchegante, do outro lado havia minha rede amarela e algumas almofadas no chão, uma mesa pequena com cadernos e espaço para meu note, meu escritório de criação, e ao lado da pequena mesa meu abajur de cor neutra, era a sala mais incrível que eu poderia ter. 

Escolhi minha geladeira vermelha, gastei uma graninha nela, mas por ser uma cozinha americana seria lindo poder avistá-la cada vez que me deitasse na rede. Minhas canecas exposta na prateleira em cima da pia e meus eletrodomésticos pretos davam um charme especial na casa.

Tudo calmo, e no seu devido lugar. Às vezes era bom de mais ser só, ter tudo pra si, do jeito que se quer.

Mas você sempre me faria falta, apesar de nunca ter me dado sua presença.

Era uma grande loucura, alguns dias eu passava bem e em outros era como se houvessem arrancado um pedaço de mim, eu conseguia saber os dias que seriam mais difíceis. Já me conhecia o suficiente para saber quando a falta da sua ausência me faria mal.

Eu não poderia contar aquilo pra ninguém, seria uma derrota, ninguém entenderia, eu teria que aguentar um milhão de julgamentos e não amenizaria em nada a minha dor.

Por esse motivo eu havia escolhido a solidão, a vida te da às cartas e você joga o jogo, simples assim, tentei entrar em relações furadas pra esquecer sua presença inexistente e nunca consegui, o barco sempre afundava no meio do percurso, eu nunca sabia onde seria a chegada, tentava aproveitar o melhor do viagem, mas alguém sempre acabava ferido ainda a bordo. 

Achei melhor parar de viajar clandestinamente em barcos alheios onde eu não fazia morada. Comprei meu próprio barco, sentei na mesa de baralho, esperei as cartas chegarem e fui jogando sozinha, hoje estou aqui, em mais uma daquelas noites longas e vazias.

A gente precisa escolher se quer ser solitário ou viver sempre uma mentira magoando as pessoas, em certo momento da vida fica difícil demais aguentar a pressão e a magoa de outros corações além do seu, então a melhor opção que se tem é seguir sozinho.

As palavras me fazem companhia, escrevo para ajudar pessoas a se encontrarem, escrevo para os que se sentem só, escrevo para amenizar as dores e as ausências, escrevo para deixar a alma falar.

Assim vamos velejando, soltando palavras ao vento e deixando a alma gritar.


Escolhi tomar um suco que tinha na geladeira, desceu refrescante e libertador, olhei pro céu e haviam muitas estrelas, dei nome a algumas, nomes que eu amava e por algum motivo não faziam mais parte dos meus dias, respirei fundo e voltei pra cama, chorei por mais alguns minutos, ate por fim adormecer. 

A vida segue, e alguns dias são melhores que outros. 

Amanheceu

em 5 de outubro de 2017



O sol estava entrando pela janela, era o dia amanhecendo lindo e cheio de luz. Ela sabia que seria assim, acordar ao lado dele não permitia um dia nublado.

Ela nem sonhava com essa noite, parecia um sonho e de baixo da coberta bem quietinha ela começou a se beliscar, sim ele estava ali.

Começou a contemplar seu sono, olhar aquele rosto amassado que nunca havia sido tão lindo, a cabeça doía um pouco, achava que eles haviam bebido de mais.

Ela queria levantar de fininho pra ir ao banheiro, mas ao mesmo tempo queria ficar ali, olhando pra ele, uma dúvida cruel, o que fazer?

Tentou bem devagar ir saindo e colocando os pés pra fora, mas ele acordou, droga, e ela que pensava que todos os homens tinham sono pesado.

Ele a olhou com aqueles olhos profundos, e com aquela cara de ressaca, e lhe disse oi, um oi roco que quase não saiu, mas que fez a espinha inteirinha dela se arrepiar. Como era bom estar ali.

Ele a puxou pra cima dele, o calor do seu corpo no dela a fazendo esquecer que precisava sair dali por alguma necessidade fisiológica, se amaram de novo e mais uma vez, tão apaixonante como na noite anterior. Ela podia senti-lo por inteiro. E em todos os seus sonhos, nada era mais maravilhoso que aquilo.


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