Tentativas

em 30 de junho de 2017



Quanto amor existia naquelas inúmeras tentativas? Era uma pergunta que nem ela mesma sabia responder. Amor, o que de verdade isso significava.

Andava tão perdida, sem explicação, sem coragem, sem vontade, ela nem enxergava mais o mundo a sua volta, tudo tinha ficado tão negro depois daquela manha, malditas férias, antes tivesse ficado em casa e esperado aqueles dias passarem longamente, estaria em paz agora, teria um sentido pra vida, além de chorar.

Ela nem queria vê-lo de novo, era noite de lua cheia e aquela superstição idiota de falta de sorte se mantinha. Estava confiante ate que olhou a lista de hospedes, mas com tantas pousadas no mundo ele tinha que ir justo pra aquela, pensou em ir embora, depois pensou em não ir, afinal sua terapeuta havia dito na ultima consulta que estava na hora de enfrentar seus medos, e de frente.

Talvez ela devesse ter esquecido sua terapeuta, ficar e enfrentar tudo aquilo tinha sido sua pior escolha. No meio do café da manha do segundo dia naquela pousada ela descobriu que ele estava acompanhado, e o pior, era realmente bonita. Ele tinha uma mania horrorosa de achar que ela tinha superado tudo e resolveu sentar em sua mesa, fazer as devidas apresentações e atrapalhar completamente seu café, suas férias e sua vida.

Porque é tão difícil esquecer quem não se deve lembrar? Ficar preso em um amor inexistente faz parte de uma loucura insana.

Ela não sabia mais o que fazer, ela simplesmente desistiu das férias, voltou pra casa com menos dinheiro, um cancelamento sem devolução e um buraco gigante no coração.

Ele realmente havia seguido com a vida e ela estava ali, estagnada em uma ilusão imprópria e completamente idiota.


Quanto amor existe em inúmeras tentativas de esquecer?

Aquele café!

em 6 de junho de 2017




Eu não podia acreditar, justo naquele dia tinha que chover, eu odiava andar de salto, e andar de salto com aquelas calçadas era uma atividade de risco, principalmente pra mim.

Aquele péssimo habito de esquecer as coisas que mais necessito ainda iria me matar, semana passada minha mãe me deu o vigésimo guarda-chuva, e justo naquele dia eu fiz o favor de esquecer na lavanderia de casa. Morar sozinha foi outra atividade de risco pra mim.

Não tinha mais opções, salto, saia branca e sem guarda chuva, fui obrigada a parar naquele café.

Eu odiava aquele café, fazia pelo menos um ano que eu não aparecia por lá, só de olhar aquelas pequenas luzes abaixo do letreiro eu já me sentia enjoada, mas eu não tinha opção, algo me dizia, “não faça isso”, mas eu senti imensamente por não escutar esse certo alguém que mora na minha mente, e tentei explicar pra mim mesma que eu não tinha escolha.

Entrei, aparentemente estava tudo certo no inicio, pisquei os olhos três vezes, sempre achei que isso dava certo, sempre achei que me trazia sorte, e trazia, ate aquele dia.

Escolhi uma mesa no fundo, é ótimo, sempre da pra vigiar a porta, saber quem entra, quem sai, olhar o hábito que as pessoas tem quando tomam café e o melhor é que não existe a possibilidade de alguém sentar atrás de mim, o que simplesmente me da uma certa agonia. Maravilha. Acreditei que poderia relaxar e então pedi um cappuccino, além de ser meu preferido estava fazendo um pouco de frio la fora, de repente senti uma calma, fazia pelo menos duas horas que meu corpo estava sentindo uma completa onda de stress, eu só precisava ficar ali, ate que a chuva se acalmasse e eu conseguisse voltar pra casa.  

Tudo estava tranqüilo, e manteve-se assim por vinte e cinco minutos, ate que aquela porcaria de porta se abriu, tocando aquele sininho irritante, que era outra coisa que eu passei a odiar naquele café, e então ele entrou, entrou com aquele suéter preto de listras amarelas e verdes e brancas, aquele que ele sempre usava nesses dias, o cabelo tinha molhado, ele também sempre esquecia o guarda chuva, então estava caindo na testa, assim, pegando no olho, de um jeito que eu amava, porque simplesmente ficava lindo nele e me lembrava quando ele saia do banho. 

Levei uns dez segundo nesse devaneio, ate que me dei conta de que precisava me esconder, por sorte tinha um cardápio na mesa, eles nunca deixam o cardápio na mesa depois que você já fez o pedido, mas por uma obra divina o meu estava ali, grande e comprido capaz de esconder todo o meu rosto, eu não me lembro de qualquer outra vez na vida que eu tenha amado tanto um cardápio, nem quando fui comer pela primeira vez no outback, e olha que poder escolher aquela costela sem medo e viajar nos acompanhamentos é quase um passeio pelo céu.

Me escondi, como uma criança, como uma abandonada, como alguém que ama, ama tanto aquele homem. 

Não podia deixá-lo me ver, seria decadente, eu jamais queria ouvir o som daquela voz se dirigindo pra mim, porque a ultima vez foi tão horrível, que sempre me faria lembrar.

Esperei, mais longos dez minutos, o atendente veio três vezes me perguntar se eu já havia escolhido e se poderia devolver o cardápio, disse que não e combinei com ele uma gorjeta, eu pagaria meu cappuccino sem sair da mesa, ele me deixaria com o cardápio ate que eu pudesse ir embora e nesse caso poderia ficar com o troco, ele ficou muito feliz e eu também, foi um belo combinado. 

Dai ele se levantou, e um frio percorreu toda a minha espinha, pensei que ele deveria ir ate o banheiro, ou talvez estivesse se levantando para pagar a conta, eu teria que ser rápida caso fosse a primeira opção, seria a minha oportunidade de sair correndo dali.

Bingo, ele estava indo ao banheiro, esperei calmamente e assim que ele sumiu das minhas vistas eu levantei, acenei pro atendente e corri em direção à porta, algumas pessoas não compreenderam minha corrida insana dentro de um estabelecimento tão pequeno, mas elas não entendem nada sobre uma bela estratégia de fuga, e eu ainda perdi meu troco por causa disso.

A chuva estava péssima, muito pior do que no momento em que decidi entrar naquele café, me encharquei em menos de um minuto de caminhada, mas na verdade agora a minha mente só estava programada pra lembrar da porta abrindo, do sino irritante, do suéter e do cabelo, do cabelo que me lembrava o banho e que me lembrava ele, que no fim me lembrava de “nós”.

Essas historia sempre acabam em coisas que não existem mais. Eu sabia que eu odiava aquele café, e agora eu odiava mais porque ele me renderia uma noite de pijama de flanela, assistindo netflix, comendo brigadeiro e lembrando, do banho, não, do cabelo, no café, do café no suéter, das listras e do sino irritante e tudo que resultava em “nós”, um “nós” que eu queria tanto e que eu não tinha.

Ah talvez eu também ganhe uma gripe.


Só pra completar. 

Perdemos

em 2 de junho de 2017



Já sentiu vontade de mudar tudo radicalmente? De virar seu mundo do avesso?

E mesmo sabendo que não se pode fazer nada, perder aqueles quinze minutos de vida, viajando na ideia de mudança e de como seria bom, ou talvez tivesse sido bom, se houvessem outras escolhas.

Às vezes me pego pensando em como o ser humano é frágil, em como temos uma tendência a não gostar de nossas escolhas, por um momento nos sentimos realizados, em um curto espaço de tempo aquela decisão foi verdadeiramente boa, mas são apenas momentos, isolados, curtos e que depois se tornam vazios.

Dificultamos todos os passos, pioramos todas as verdades, esperamos aquela mudança que não tem de onde vir sozinha, esperamos a cura de uma doença que ainda nem se proliferou.

Estamos sempre esperando e sempre nos enjoando do que chega. Desejamos e nos cansamos, quase que instantaneamente. Perdemos o presente, perdemos o momento da conquista, às vezes lamentando sua demora, outras vezes questionando sua chegada e por fim sofrendo sua perda.

Perdas que se tornam irreparáveis e que no fim são a nossa debilidade para continuar.


Nunca existe um fim, o ciclo sempre recomeça, nunca termina, a gente não muda e o tempo não para. 
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