Era mais uma
daquelas noites frias em que ela se enrolava toda em seu edredom, gostava de
sentir os pés presos pra ter aquela falsa impressão de segurança. Quando tinha
mais alguém ali naquela cama ela costuma prender os quatro pés, bem juntinhos,
a sensação de segurança vinha de mãos dadas com a de proteção e aquele se
tornava o melhor lugar do mundo.
Quando se sentia
insegura no trabalho, ou em algum momento difícil logo pensava que em poucas
horas estaria ali, no seu lugar perfeito do universo e tudo ficaria bem.
Era difícil aceitar
as mudanças, o tempo ia passando devagar, às vezes parecia que de propósito pra
dor se estender mais, a cama se tornou um lugar tão vazio, e o que era o
cantinho preferido se tornou tão solitário que ela já nem tinha vontade de
voltar pra casa.
Ha alguns dias
começou a passar diariamente no barzinho aconchegante que tinha na esquina da
agência, ela precisava manter sua criatividade em alta para se dar bem no
trabalho, então bebia uma taça de vinho pra lembrar pelo menos um pouquinho o
que era sentir prazer.
Às vezes se
lamentava por não morar em uma cidade maior, talvez se estivesse no Rio ou em
São Paulo seria mais fácil buscar entretenimento, mas ali no sul, parecia que
tudo lembrava a fase mais importante da sua vida e a que mais gostaria de
esquecer.
Era como se um
pedacinho dela tivesse se perdido, e por mais que ela tentasse procurar ela
sabia que não ia encaixar, porque na perda outros pedaços se perderam e aquela
parte deixou de ser a parte que faltava nela. Era difícil de entender, ela
queria voltar no tempo, mas não queria voltar a tê-lo depois de tudo. Ela
queria voltar e não repetir. E era diferente. Ela sabia.
A vida tem dessas
coisas, te coloca em uma saia justa pra que você tenha que passar pelo desafio
da decisão e nem de longe ela imaginava o quanto isso era difícil.
Sabia o que tinha
que fazer, precisava seguir em frente, mas, saber e fazer eram dois pontos
distantes em uma mesma reta, não se sentia pronta, mas sabia que precisava
estar.
A vida tem dessas
coisas e ela sabia, precisava apenas dar um passo de cada vez, o vinho estava
ajudando, e aos poucos tentava voltar a confiar em si mesma.
Alguns dias se
sentia mais forte e em outros nem tanto, rodava a cidade procurando manter a
mente cheia de idéias e pensamentos agitados, mas o dia sempre chegava ao fim e
ai, ai ela sempre voltava pro velho e quentinho edredom e repetia o ritual dos
pés, a cada nova noite se lembrava que não tinha mais a sensação de proteção,
mas ainda assim insistia, porque nesse momento ela precisava da impressão de
segurança.