Edredom

em 5 de maio de 2018



Era mais uma daquelas noites frias em que ela se enrolava toda em seu edredom, gostava de sentir os pés presos pra ter aquela falsa impressão de segurança. Quando tinha mais alguém ali naquela cama ela costuma prender os quatro pés, bem juntinhos, a sensação de segurança vinha de mãos dadas com a de proteção e aquele se tornava o melhor lugar do mundo.

Quando se sentia insegura no trabalho, ou em algum momento difícil logo pensava que em poucas horas estaria ali, no seu lugar perfeito do universo e tudo ficaria bem.

Era difícil aceitar as mudanças, o tempo ia passando devagar, às vezes parecia que de propósito pra dor se estender mais, a cama se tornou um lugar tão vazio, e o que era o cantinho preferido se tornou tão solitário que ela já nem tinha vontade de voltar pra casa.

Ha alguns dias começou a passar diariamente no barzinho aconchegante que tinha na esquina da agência, ela precisava manter sua criatividade em alta para se dar bem no trabalho, então bebia uma taça de vinho pra lembrar pelo menos um pouquinho o que era sentir prazer.

Às vezes se lamentava por não morar em uma cidade maior, talvez se estivesse no Rio ou em São Paulo seria mais fácil buscar entretenimento, mas ali no sul, parecia que tudo lembrava a fase mais importante da sua vida e a que mais gostaria de esquecer.

Era como se um pedacinho dela tivesse se perdido, e por mais que ela tentasse procurar ela sabia que não ia encaixar, porque na perda outros pedaços se perderam e aquela parte deixou de ser a parte que faltava nela. Era difícil de entender, ela queria voltar no tempo, mas não queria voltar a tê-lo depois de tudo. Ela queria voltar e não repetir. E era diferente. Ela sabia.

A vida tem dessas coisas, te coloca em uma saia justa pra que você tenha que passar pelo desafio da decisão e nem de longe ela imaginava o quanto isso era difícil.

Sabia o que tinha que fazer, precisava seguir em frente, mas, saber e fazer eram dois pontos distantes em uma mesma reta, não se sentia pronta, mas sabia que precisava estar.

A vida tem dessas coisas e ela sabia, precisava apenas dar um passo de cada vez, o vinho estava ajudando, e aos poucos tentava voltar a confiar em si mesma.

Alguns dias se sentia mais forte e em outros nem tanto, rodava a cidade procurando manter a mente cheia de idéias e pensamentos agitados, mas o dia sempre chegava ao fim e ai, ai ela sempre voltava pro velho e quentinho edredom e repetia o ritual dos pés, a cada nova noite se lembrava que não tinha mais a sensação de proteção, mas ainda assim insistia, porque nesse momento ela precisava da impressão de segurança.



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