Aquele café!

em 6 de junho de 2017




Eu não podia acreditar, justo naquele dia tinha que chover, eu odiava andar de salto, e andar de salto com aquelas calçadas era uma atividade de risco, principalmente pra mim.

Aquele péssimo habito de esquecer as coisas que mais necessito ainda iria me matar, semana passada minha mãe me deu o vigésimo guarda-chuva, e justo naquele dia eu fiz o favor de esquecer na lavanderia de casa. Morar sozinha foi outra atividade de risco pra mim.

Não tinha mais opções, salto, saia branca e sem guarda chuva, fui obrigada a parar naquele café.

Eu odiava aquele café, fazia pelo menos um ano que eu não aparecia por lá, só de olhar aquelas pequenas luzes abaixo do letreiro eu já me sentia enjoada, mas eu não tinha opção, algo me dizia, “não faça isso”, mas eu senti imensamente por não escutar esse certo alguém que mora na minha mente, e tentei explicar pra mim mesma que eu não tinha escolha.

Entrei, aparentemente estava tudo certo no inicio, pisquei os olhos três vezes, sempre achei que isso dava certo, sempre achei que me trazia sorte, e trazia, ate aquele dia.

Escolhi uma mesa no fundo, é ótimo, sempre da pra vigiar a porta, saber quem entra, quem sai, olhar o hábito que as pessoas tem quando tomam café e o melhor é que não existe a possibilidade de alguém sentar atrás de mim, o que simplesmente me da uma certa agonia. Maravilha. Acreditei que poderia relaxar e então pedi um cappuccino, além de ser meu preferido estava fazendo um pouco de frio la fora, de repente senti uma calma, fazia pelo menos duas horas que meu corpo estava sentindo uma completa onda de stress, eu só precisava ficar ali, ate que a chuva se acalmasse e eu conseguisse voltar pra casa.  

Tudo estava tranqüilo, e manteve-se assim por vinte e cinco minutos, ate que aquela porcaria de porta se abriu, tocando aquele sininho irritante, que era outra coisa que eu passei a odiar naquele café, e então ele entrou, entrou com aquele suéter preto de listras amarelas e verdes e brancas, aquele que ele sempre usava nesses dias, o cabelo tinha molhado, ele também sempre esquecia o guarda chuva, então estava caindo na testa, assim, pegando no olho, de um jeito que eu amava, porque simplesmente ficava lindo nele e me lembrava quando ele saia do banho. 

Levei uns dez segundo nesse devaneio, ate que me dei conta de que precisava me esconder, por sorte tinha um cardápio na mesa, eles nunca deixam o cardápio na mesa depois que você já fez o pedido, mas por uma obra divina o meu estava ali, grande e comprido capaz de esconder todo o meu rosto, eu não me lembro de qualquer outra vez na vida que eu tenha amado tanto um cardápio, nem quando fui comer pela primeira vez no outback, e olha que poder escolher aquela costela sem medo e viajar nos acompanhamentos é quase um passeio pelo céu.

Me escondi, como uma criança, como uma abandonada, como alguém que ama, ama tanto aquele homem. 

Não podia deixá-lo me ver, seria decadente, eu jamais queria ouvir o som daquela voz se dirigindo pra mim, porque a ultima vez foi tão horrível, que sempre me faria lembrar.

Esperei, mais longos dez minutos, o atendente veio três vezes me perguntar se eu já havia escolhido e se poderia devolver o cardápio, disse que não e combinei com ele uma gorjeta, eu pagaria meu cappuccino sem sair da mesa, ele me deixaria com o cardápio ate que eu pudesse ir embora e nesse caso poderia ficar com o troco, ele ficou muito feliz e eu também, foi um belo combinado. 

Dai ele se levantou, e um frio percorreu toda a minha espinha, pensei que ele deveria ir ate o banheiro, ou talvez estivesse se levantando para pagar a conta, eu teria que ser rápida caso fosse a primeira opção, seria a minha oportunidade de sair correndo dali.

Bingo, ele estava indo ao banheiro, esperei calmamente e assim que ele sumiu das minhas vistas eu levantei, acenei pro atendente e corri em direção à porta, algumas pessoas não compreenderam minha corrida insana dentro de um estabelecimento tão pequeno, mas elas não entendem nada sobre uma bela estratégia de fuga, e eu ainda perdi meu troco por causa disso.

A chuva estava péssima, muito pior do que no momento em que decidi entrar naquele café, me encharquei em menos de um minuto de caminhada, mas na verdade agora a minha mente só estava programada pra lembrar da porta abrindo, do sino irritante, do suéter e do cabelo, do cabelo que me lembrava o banho e que me lembrava ele, que no fim me lembrava de “nós”.

Essas historia sempre acabam em coisas que não existem mais. Eu sabia que eu odiava aquele café, e agora eu odiava mais porque ele me renderia uma noite de pijama de flanela, assistindo netflix, comendo brigadeiro e lembrando, do banho, não, do cabelo, no café, do café no suéter, das listras e do sino irritante e tudo que resultava em “nós”, um “nós” que eu queria tanto e que eu não tinha.

Ah talvez eu também ganhe uma gripe.


Só pra completar. 

4 comentários:

  1. Eu estou completamente maravilhado com esse texto. O modo como você escreve me deixou querendo mais e mais! Parabéns pela escrita e pela ideia de postar no seu blog coisas de autoria própria. Apaixonado.

    Beijão, sucesso! 💙
    http://bloggmundodoslivros.blogspot.com.br/?m=1

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    1. Muito obrigada! O seu comentario alegrou meu dia, vc não faz ideia de como é bom ler isso! Tb estou amando seu blog. Não deixe de acompanhar novas postagens! Um grande beijo 😘

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