Entrei naquele
restaurante completamente perdida, eu nem acreditava que tinha aceitado estar
ali, parecia mesmo que me subconsciente indomável tinha tomado as rédeas da
minha vida e feito tudo completamente ao contrario do que uma pessoa sensata
faria.
Porque encontrar
com ele daquela maneira, se ao menos eu pudesse não sentir absolutamente nada,
se pudesse simplesmente não ter sentimentos dentro de mim, um coração de lata
ou pedra, quem sabe mármore, eu só queria ser dura e demonstrar toda a força
que eu gostaria de ter e com toda certeza do universo não tinha.
Ele continuava com
a mesma pose de sempre, o vi entrando pela porta, acompanhei disfarçadamente
cada passo concentrado ate a mesa, eu já o conhecia tempo o bastante para saber
que estava nervoso, sim, talvez não tanto quanto eu, ele sempre soube lidar
melhor com os sentimentos, mas estava visivelmente nervoso e apreensivo com
aquela situação, eu nem sabia o que ele ia me dizer, pedir ou propor, só
conseguia pensar que não seria nada bom pra mim.
Fechei os olhos por
cinco segundos, foi rápido de mais, suficiente para encontrá-lo na minha
frente. Os últimos passos foram
definitivamente rápidos. Porque ele mexe tanto comigo? Qual a razão sado
masoquista de ter permissão para sentir algo tão forte por alguém que vai
desistir de te acompanhar nesse sentimento em tempo muito menos previsto do que
você gostaria?
Não conseguia olhar
nos olhos, era impossível, me dava à sensação de que quatrocentas mil lagrimas
sairiam deles exatamente no mesmo segundo da primeira piscadela, desejei
freneticamente que ele falasse muito rápido qual era o assunto, que eu pudesse
voltar pra casa sabendo que ele continuava sendo tudo que eu desejava e jamais
teria.
Realmente ele não
demorou, sabe qual é a pior parte de ir a um lugar, com muito medo, sem saber
do que se trata? É ir com esperança. E sabe o que é pior que isso? Tê-la
quebrada rapidamente sem nem se dar conta.
Ele disse realmente
muito rápido o que queria, queria dividir a compra do imóvel, já tinha
encontrado alguém interessado e proposto a pagar o preço que era justo naquele
momento, eu que nunca me interessei pelo mercado de imóveis, nas ultimas três
semanas me senti na obrigação de ser a mulher mais forte do planeta e entender
o valor cobrado por metro quadrado. Era só isso o que ele queria, decidir,
burocraticamente o que íamos fazer, nesse momento gostaria de ser rica o
suficiente para me levantar e dizer: “ resolva isso com meu advogado”, mas eu
estava sozinha, com o coração despedaçado e jamais teria dinheiro para gastar com
um advogado, afinal se tinha alguma coisa que eu ainda podia me agarrar e
confiar era de que ele era uma pessoa honesta, ao menos uma preocupação a
menos, poderia finalmente dedicar todo o meu tempo a juntar os meus cacos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário