Juntando os cacos.

em 18 de julho de 2017



Entrei naquele restaurante completamente perdida, eu nem acreditava que tinha aceitado estar ali, parecia mesmo que me subconsciente indomável tinha tomado as rédeas da minha vida e feito tudo completamente ao contrario do que uma pessoa sensata faria.

Porque encontrar com ele daquela maneira, se ao menos eu pudesse não sentir absolutamente nada, se pudesse simplesmente não ter sentimentos dentro de mim, um coração de lata ou pedra, quem sabe mármore, eu só queria ser dura e demonstrar toda a força que eu gostaria de ter e com toda certeza do universo não tinha.

Ele continuava com a mesma pose de sempre, o vi entrando pela porta, acompanhei disfarçadamente cada passo concentrado ate a mesa, eu já o conhecia tempo o bastante para saber que estava nervoso, sim, talvez não tanto quanto eu, ele sempre soube lidar melhor com os sentimentos, mas estava visivelmente nervoso e apreensivo com aquela situação, eu nem sabia o que ele ia me dizer, pedir ou propor, só conseguia pensar que não seria nada bom pra mim.

Fechei os olhos por cinco segundos, foi rápido de mais, suficiente para encontrá-lo na minha frente.  Os últimos passos foram definitivamente rápidos. Porque ele mexe tanto comigo? Qual a razão sado masoquista de ter permissão para sentir algo tão forte por alguém que vai desistir de te acompanhar nesse sentimento em tempo muito menos previsto do que você gostaria?
Não conseguia olhar nos olhos, era impossível, me dava à sensação de que quatrocentas mil lagrimas sairiam deles exatamente no mesmo segundo da primeira piscadela, desejei freneticamente que ele falasse muito rápido qual era o assunto, que eu pudesse voltar pra casa sabendo que ele continuava sendo tudo que eu desejava e jamais teria.

Realmente ele não demorou, sabe qual é a pior parte de ir a um lugar, com muito medo, sem saber do que se trata? É ir com esperança. E sabe o que é pior que isso? Tê-la quebrada rapidamente sem nem se dar conta.


Ele disse realmente muito rápido o que queria, queria dividir a compra do imóvel, já tinha encontrado alguém interessado e proposto a pagar o preço que era justo naquele momento, eu que nunca me interessei pelo mercado de imóveis, nas ultimas três semanas me senti na obrigação de ser a mulher mais forte do planeta e entender o valor cobrado por metro quadrado. Era só isso o que ele queria, decidir, burocraticamente o que íamos fazer, nesse momento gostaria de ser rica o suficiente para me levantar e dizer: “ resolva isso com meu advogado”, mas eu estava sozinha, com o coração despedaçado e jamais teria dinheiro para gastar com um advogado, afinal se tinha alguma coisa que eu ainda podia me agarrar e confiar era de que ele era uma pessoa honesta, ao menos uma preocupação a menos, poderia finalmente dedicar todo o meu tempo a juntar os meus cacos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

© Doces Sonhos | Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento por: Colorindo Design | Tecnologia do Blogger.