Amor

em 10 de abril de 2020





Há meses meu quarto permanecia escuro, pedi pra minha mãe uma cortina, porque até a luz que adentrava pelas frestinhas da veneziana de madeira me incomodavam.

Ela ficou verdadeiramente preocupada com meu pedido, ultimamente estava entre a cruz e a espada, não sabia se realizava meus desejos afim de que eu me sentisse acolhida ou se tentava mudar e me ajudar.


Entendo sua postura, olho pra trás e consigo compreender pelo menos um pouco da sua dor.

Quando você sofre de uma coisa assim, todos ao seu redor também sofrem. É como um monstro que inunda sua alma a ponto de te fazer transbordar pelos olhos, você não sabe porque ele está ali, ou como manda-lo embora.Você apenas sente aquele presença que passa a te definir.

Achei que não tinha mais chance, não havia pra onde correr, achei que ele estaria ali pra sempre e pensei inúmeras vezes em ir embora. Se ele não ia, talvez eu devesse ir, e se eu fosse que bom seria.Sentiria saudade do tempo em que ele não me habitava, mas eu já não conhecia mais esse tempo e só o que conseguia desejar era me livrar daquele peso.



Comecei a receber amigos em casa, foi minha mãe quem ligou para todos eles, ela já não sabia o que fazer, na verdade ela nunca soube lidar, no tempo dela aquilo tudo era uma grande bobagem e ainda hoje as pessoas costumam dizer que é tudo uma frescura, falta de surra, falta de vergonha na cara ou de lavar a louça em casa. Mas ela sabia que não, e seu amor de mãe foi maior que todas as convicções erradas que plantaram em sua cabeça.


Os amigos vieram, e vieram com informação, informação que falta muito, faltam maneiras de poder ajudar.


A cada visita eu me sentia um pouco mais completa, depois de alguns dias eu aceitei abrir a cortina, e aos poucos fui abrindo a janela. No segundo mês eu aceitei uma ajuda médica e podia ver os olhos de minha mãe brilharem.


A partir daí eu pude entender que, independentemente de onde venha, seja do seu amor maior, de amigos leais, ou de profissionais até então estranhos, tudo tem uma saída. Existe forma de auxílio.

Basta abrir os olhos, basta ajudar.

Eu não via a luz do sol, eu não via sentido na vida. Mas o amor me trouxe uma nova possibilidade.


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